Análise de Causa Raiz: O Que É, Benefícios e Métodos para a Indústria

Thiago Mochetti

Atualizado em 16 mai. de 2025

Análise de Causa Raiz: O Que É, Benefícios e Métodos para a Indústria

Análise de Causa Raiz: O Que É, Benefícios e Métodos para a Indústria

Você já deve ter passado por isso: ocorre uma falha, a equipe de manutenção corre para fazer a manutenção corretiva. Troca de peça, vistoria, tudo como deve ser feito. Depois de algumas horas de parada inesperada, tudo volta a funcionar. Mas não por muito tempo, porque a mesma falha acaba acontecendo de novo.

A Análise de Causa Raiz (RCA) existe justamente para evitar isso. É ela que permite investigar a fundo, entender a sequência de eventos que levou ao problema e agir onde realmente importa.

Ao focar nas verdadeiras origens dos problemas, a RCA ajuda as indústrias a minimizar o tempo de inatividade e transformar a rotina de manutenção de forma definitiva.

Neste artigo, vamos entender o que é RCA, quando ela pode ser útil e como aplicar na sua planta industrial.

O Que É a Análise de Causa Raiz (RCA)?

A Análise de Causa Raiz é uma metodologia estruturada usada para identificar a origem real de falhas, problemas ou ineficiências. Em vez de aplicar soluções paliativas, ela busca entender e resolver a causa central, garantindo que o mesmo problema não volte a acontecer.

Na prática, isso significa sair do modo reativo e adotar uma postura muito mais estratégica e preventiva na gestão da manutenção. 

Entre as ferramentas mais comuns da metodologia estão o Diagrama de Ishikawa (ou Espinha de Peixe), que ajuda a decompor visualmente os fatores envolvidos no problema, e outras técnicas que sistematizam a investigação.

No contexto da manutenção industrial, o papel da RCA é claro: aumentar a confiabilidade dos ativos e melhorar a eficiência operacional

Ao entender o que falhou e por quê, as equipes conseguem tomar decisões mais assertivas, aplicar ações corretivas com foco em resultados sustentáveis e, principalmente, evitar que as falhas se repitam.

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A Evolução da Análise de Causa Raiz

A Análise de Causa Raiz (RCA) passou por transformações no seu uso. No início do século XX, era uma técnica usada por engenheiros industriais. Hoje, tornou-se uma metodologia orientada por dados, essencial para a confiabilidade nas operações modernas.

As Primeiras Aplicações

As bases da RCA surgiram com os primeiros engenheiros industriais, que buscavam métodos sistemáticos para melhorar a eficiência nas fábricas. 

Na década de 1940, o exército dos Estados Unidos desenvolveu a Análise De Modos e Efeitos De Falha (FMEA), uma das primeiras ferramentas estruturadas voltadas para entender falhas complexas e aumentar a confiabilidade de sistemas críticos.

Esse foi o ponto de partida para o que viria a ser uma abordagem cada vez mais refinada e robusta de análise de problemas.

A Consolidação de Métodos Visuais e Interativos

Entre as décadas de 1960 e 1980, surgiram duas das ferramentas mais populares da RCA: o método dos 5 Porquês, desenvolvido no Sistema Toyota de Produção, e o Diagrama de Ishikawa, criado por Kaoru Ishikawa. 

Ambas as metodologias transformaram a maneira como as empresas investigavam falhas, saindo dos sintomas e passando a visualizar as causas reais por trás dos problemas.

Essas técnicas se tornaram fundamentais para times de manutenção e engenharia que buscavam soluções duradouras, com base em análise estruturada.

A Era da RCA com Dados e Inteligência Artificial

Com a transformação digital nas indústrias, a RCA deu mais um salto: hoje, ela incorpora sensores IoT, algoritmos preditivos e inteligência artificial para detectar falhas em tempo real

Isso permite que as análises sejam feitas com maior agilidade, precisão e profundidade.

O resultado é um processo muito mais estratégico, que apoia a tomada de decisão com dados concretos, reduz o tempo de inatividade e aumenta a confiabilidade dos ativos.

Quando Aplicar a Análise de Causa Raiz?

A Análise de Causa Raiz (RCA) traz melhores resultados quando é aplicada tanto de forma reativa quanto proativa. Ou seja, ela deve ser usada não só para entender falhas que já aconteceram, mas também para antecipar problemas e evitar que eles se repitam.

1. Após Falhas Críticas em Equipamentos

Paradas inesperadas afetam diretamente a produção, geram custos adicionais e, em muitos casos, representam riscos à segurança. Quando isso acontece, a RCA entra em cena para investigar por que a falha ocorreu e, principalmente, como evitar que ela aconteça novamente.

2. Quando Houver Queda de Desempenho

Redução na eficiência dos ativos, perda de qualidade nos produtos ou desempenho abaixo do esperado? Esses sinais geralmente indicam problemas que ainda estão na fase inicial. 

A RCA ajuda a encontrar essas ineficiências logo no começo e permite otimizar processos antes que o impacto se torne maior.

3. Durante Investigações de Conformidade

Indústrias com exigências regulatórias rigorosas, como alimentos, energia e farmacêutica, usam a RCA para entender o que causou incidentes de segurança, falhas de qualidade ou impactos ambientais. 

Isso garante que as ações corretivas estejam alinhadas com as normas e reforcem a confiabilidade do processo.

4. Quando os Custos de Manutenção Disparam

Gastos excessivos com manutenção corretiva, troca frequente de peças ou paradas não planejadas repetidas são sinais claros de que há falhas recorrentes.

Nesse caso, a RCA é essencial para encontrar a raiz do problema e redesenhar a estratégia de manutenção, com foco na redução de custos no longo prazo.

5. Após Quase Acidentes ou Incidentes de Segurança

A RCA não deve ser aplicada apenas quando há uma falha grave. Situações que quase causaram acidentes — os quase acidentes — também merecem atenção. Investigar essas ocorrências é uma forma de evitar eventos futuros mais sérios, promovendo uma cultura de segurança mais sólida.

Ao aplicar a Análise de Causa Raiz nesses cenários, sua operação deixa de lado os reparos paliativos e passa a atuar de forma mais estratégica, com foco em melhoria contínua e excelência operacional.

Os benefícios do RCA são: prevenção de reincidências, redução de custos, aumento de disponibilidade e melhoria contínua.
Benefícios da Análise de Causa Raiz na Indústria

Benefícios e Objetivos da Análise de Causa Raiz

A Análise de Causa Raiz (RCA) não serve apenas para resolver falhas pontuais. Quando aplicada de forma estruturada, ela transforma a rotina de manutenção e eleva a operação a outro patamar. Veja alguns dos principais benefícios:

Prevenção de Recorrências

Um dos maiores impactos da RCA está na eliminação de falhas repetitivas. Ao identificar e atacar diretamente a origem do problema, a metodologia entrega soluções duradouras e não apenas “curativos” que mascaram os sintomas.

Isso significa que as análises deixam de ser superficiais e passam a explorar de fato o que levou ao erro, o que torna a confiabilidade no longo prazo muito mais alcançável.

Redução de Custos

Quando a causa raiz é encontrada com precisão e tratada corretamente, a empresa evita retrabalho, paradas frequentes e desperdício de recursos. Além disso, essa abordagem se alinha aos princípios da gestão da qualidade total (TQM), promovendo melhorias contínuas nos processos.

Com a redução do tempo de inatividade não planejado e ações preventivas bem direcionadas, a operação se torna mais enxuta e eficiente.

Aumento da Disponibilidade das Máquinas

A disponibilidade dos ativos é um dos indicadores mais impactados pela aplicação eficaz da RCA. Quando os planos de manutenção são construídos com base em análises profundas e não em suposições, a confiabilidade dos equipamentos melhora consideravelmente.

Isso se traduz em mais estabilidade no chão de fábrica e ganhos consistentes em produtividade.

Cultura de Melhoria Contínua

Mais do que resolver falhas isoladas, a RCA estimula uma mentalidade de melhoria contínua dentro da operação industrial.

Ela ajuda as equipes a identificarem áreas que precisam de ajustes constantes e promove ações que evitam o acúmulo de pequenas falhas, que no longo prazo podem comprometer toda a operação.

Ao integrar ferramentas como o Diagrama de Ishikawa, a Análise de Árvore de Falhas (FTA) e a Análise de Barreiras, a RCA permite que os processos sejam aprimorados de forma sistemática, consolidando um ciclo virtuoso de performance e eficiência.

Princípios Fundamentais da Análise de Causa Raiz

Para que a RCA realmente entregue resultados consistentes, ela precisa seguir alguns princípios básicos. São essas diretrizes que garantem que a análise seja profunda, precisa e, principalmente, eficaz na resolução de falhas.

Veja os pilares que sustentam uma investigação bem executada:

1. Foco na Origem do Problema

A RCA não se limita a tratar os sintomas visíveis de uma falha. Ela busca a causa real, aquela que está por trás do que aconteceu, e é justamente isso que a diferencia de abordagens superficiais.

Ao agir sobre a origem e não sobre as consequências, a empresa evita que a falha se repita. E é aqui que surgem as soluções de longo prazo, que de fato eliminam o problema de maneira definitiva.

2. Processo Sistemático

A Análise de Causa Raiz segue um processo estruturado, com etapas bem definidas que guiam desde a coleta de dados até a implementação de ações corretivas.

Esse método não só garante uma investigação lógica e ordenada, como também evita que causas relevantes sejam ignoradas. Assim, a equipe tem uma base sólida para tomar decisões assertivas e propor soluções práticas e aplicáveis.

3. Abordagem Baseada em Dados

A RCA eficaz se apoia em dados reais. Nada de achismos: o processo exige análise de históricos de falhas, registros de manutenção e métricas de desempenho para entender o que realmente está acontecendo.

Esse uso de dados concretos garante que as conclusões tenham embasamento técnico, além de ajudar a identificar padrões e tendências que poderiam passar despercebidos.

Como Conduzir Uma Análise de Causa Raiz?

Para realizar uma Análise de Causa Raiz eficiente dentro da indústria, o primeiro passo é escolher a metodologia mais adequada ao tipo de problema. 

Cada caso exige uma abordagem específica. O objetivo é claro: ir além das soluções paliativas e atacar a verdadeira origem da falha. Para que isso funcione, é essencial definir o problema com precisão e entender a sequência de eventos que levou até ele.

Existem ferramentas consagradas que ajudam nesse processo, como o Diagrama de Ishikawa, o Método dos 5 Porquês e a Análise de Modos de Falha e Efeitos (FMEA).

Todas elas oferecem um caminho estruturado para conduzir a RCA de forma profunda, assertiva e com foco em resultados sustentáveis.

1. Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe)

O Diagrama de Ishikawa — também conhecido como Diagrama Espinha de Peixe — é uma ferramenta visual que ajuda a organizar e categorizar as possíveis causas de um problema.

Ele permite uma análise ampla dos processos e ajuda as equipes a enxergarem além do óbvio, identificando fatores que podem estar diretamente ligados à origem da falha.

Entenda como o Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe) funciona
Exemplo do Diagrama de Ishikawa

Como aplicar:

  • Desenhe a “espinha” do peixe e escreva o problema principal na “cabeça”.
  • Identifique as categorias principais que podem estar relacionadas ao problema (como pessoas, métodos, materiais, máquinas, ambiente, medição).
  • Em cada “ramo”, liste os possíveis fatores contribuintes por meio de um brainstorming com a equipe envolvida.

Esse método permite avaliar múltiplas influências ao mesmo tempo, o que proporciona uma compreensão total do problema.

2. Método dos 5 Porquês

O Método dos 5 Porquês é uma técnica simples, mas extremamente eficaz, que ajuda a identificar a causa raiz de um problema por meio de perguntas sequenciais.

A ideia é fazer a pergunta "por quê?" repetidamente até chegar ao ponto central da falha. É uma abordagem direta, que elimina suposições e foca no que realmente importa.

Entenda como o método dos 5 porquês funciona.
Diagrama explicando como é o Método dos 5 Porquês

Exemplo prático:

  1. Por que a máquina parou? Porque o motor queimou.
  2. Por que o motor queimou? Porque houve superaquecimento.
  3. Por que houve superaquecimento? Porque o sistema de ventilação estava obstruído.
  4. Por que o sistema de ventilação estava obstruído? Porque não foi feita a manutenção preventiva.
  5. Por que a manutenção preventiva não foi feita? Porque não existia um cronograma de manutenção definido.

Com esse método, a análise vai direto ao ponto: o verdadeiro problema não era o motor em si, mas a ausência de uma estratégia preventiva. A partir daí, fica muito mais fácil implementar ações corretivas que resolvam o problema de forma definitiva.

3. Análise de Modos de Falha e Efeitos (FMEA)

A FMEA (Failure Mode and Effects Analysis) é uma técnica preventiva que avalia o impacto potencial dos diferentes modos de falha de um sistema. Ela permite identificar, classificar e priorizar os riscos antes mesmo de eles ocorrerem.

É uma abordagem estruturada, ideal para ambientes industriais onde a confiabilidade dos processos é crítica.

Como funciona na prática:

  1. Identifique os modos de falha possíveis e os efeitos que cada um pode causar no sistema.
  2. Atribua uma pontuação para cada falha, considerando três critérios: gravidade, frequência de ocorrência e facilidade de detecção.
  3. Multiplique os valores para obter o Número de Prioridade de Risco (RPN).
  4. Priorize ações corretivas com base nos modos de falha com maior RPN — esses representam os riscos mais críticos.
Entenda como o FMEA funciona
Análise de Falhas FMEA

Esse método ajuda a direcionar os recursos da manutenção para onde realmente fazem diferença, reduzindo riscos operacionais e aumentando a confiabilidade dos ativos.

Qual Método Escolher Para Sua Indústria?

Cada ferramenta de RCA tem pontos fortes específicos — e a escolha do método ideal depende da complexidade do problema e das necessidades do setor.

Veja alguns caminhos possíveis:

  • Use o Diagrama de Ishikawa para análises mais amplas, onde há múltiplos fatores interligados.
  • Aplique os 5 Porquês quando agilidade e simplicidade forem prioridade.
  • Opte pela FMEA quando o foco for prevenir falhas em sistemas com alto nível de criticidade e risco.

Boas Práticas Para Aplicar a Análise de Causa Raiz com Eficiência

A Análise de Causa Raiz é uma ferramenta poderosa, mas o impacto real vem da forma como ela é aplicada no dia a dia. Mais do que identificar o que deu errado, uma boa RCA cria processos mais confiáveis e estimula a melhoria contínua.

Confira três dicas práticas para elevar a eficácia das suas análises:

1. Trabalhe em Equipe e Valorize Perspectivas Diferentes

A RCA dá melhores resultados quando é feita em grupo. Incluir profissionais de diferentes áreas, como técnicos de manutenção, engenheiros, operadores e gestores, garante uma análise mais completa e assertiva.

Cada pessoa enxerga o problema por um ângulo diferente. Essa diversidade de pontos de vista ajuda a identificar causas que talvez passassem despercebidas para uma equipe só.

Além disso, o trabalho colaborativo aumenta o engajamento na implementação das soluções, já que todos se sentem parte do processo.

2. Planeje a RCA de Forma Proativa

É comum usar a RCA depois que uma falha já aconteceu. Mas a verdade é que ela é ainda mais poderosa quando aplicada antes de o problema surgir.

Com métodos como análise de barreiras e rastreamento da sequência de eventos, sua equipe pode identificar padrões como quedas frequentes de performance ou pequenos tempos de parada e agir antes que o cenário se agrave.

Ao estruturar um processo proativo de RCA, sua operação ganha agilidade. Usando templates padronizados, sistemas de coleta de dados e ferramentas para rastrear tendências, o fluxo é mais rápido e eficiente.

3. Aplique a RCA Também em Casos de Sucesso

Engana-se quem pensa que a Análise de Causa Raiz deve ser usada apenas para investigar falhas. Entender por que as coisas estão dando certo também é uma oportunidade estratégica.

Se uma máquina, processo ou equipe tem desempenho acima da média, vale a pena analisar o que está por trás disso. Quais práticas estão sendo adotadas? Quais condições favoreceram aquele resultado?

Esse tipo de análise permite replicar estratégias eficientes em outras áreas da operação, transformando boas práticas em padrão. Assim, a RCA deixa de ser apenas uma ferramenta corretiva e passa a ser um mecanismo de crescimento e excelência operacional.

O Que a RCA Pode Fazer Pela Sua Manutenção

Um processo estruturado de resolução de problemas é essencial para quem busca eficiência e confiabilidade na manutenção industrial. Com a RCA, sua equipe deixa de apagar incêndios e passa a agir com base em dados concretos e metodologias consistentes.

Para garantir que todas as etapas sejam seguidas, é recomendável padronizar o processo com o uso de modelos de RCA e registros de análise.

Eles organizam as informações e aumentam a assertividade na hora de definir e executar as ações corretivas.

Como Um CMMS Pode Ajudar na Sua RCA

Implementar a Análise de Causa Raiz na rotina industrial exige mais do que apenas conhecer metodologias. O verdadeiro desafio está em padronizar o processo, garantir rastreabilidade das falhas e manter histórico técnico confiável.

Especialmente em operações complexas, esse processo fica mais fácil se aliado a um sistema de gestão de manutenção integrado.

O CMMS da Tractian centraliza informações, conecta dados de ativos e facilita a documentação de cada etapa da análise: do registro do problema até a execução das ações corretivas.

Com o suporte de um bom CMMS, sua equipe consegue:

  • registrar falhas com contexto e evidência técnica;
  • correlacionar ocorrências semelhantes em diferentes ativos;
  • acompanhar a efetividade das soluções aplicadas;
  • designar responsáveis por cada tarefa;
  • evoluir com base em dados históricos, não em suposições.

Esse nível de controle transforma a RCA em algo acessível, repetível e, principalmente, estratégico.

Quer achar a raiz do problema na sua indústria? Conheça o CMMS da Tractian e veja como ele pode transformar a sua gestão de manutenção e ajudar na sua Análise de Causa Raiz.
Thiago Mochetti
Thiago Mochetti

Engenheiro de Aplicações

Com formação em Engenharia de Hardware pela Universidad de Castilla-La Mancha, Thiago Mochetti é Engenheiro de Aplicações na Tractian. Especialista em desenvolvimento de produtos voltados ao monitoramento de energia elétrica, trabalha para transformar a gestão industrial com tecnologias avançadas.

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