Cinco Porquês Da Manutenção: O Que São E Quando Usar

Erik Cordeiro

Atualizado em 03 abr. de 2025

Cinco Porquês Da Manutenção: O Que São E Quando Usar

Cinco Porquês Da Manutenção: O Que São E Quando Usar

No chão de fábrica, problemas recorrentes não surgem do nada, eles são sintomas de algo maior. 

Na hora de investigar essas falhas, o método dos 5 Porquês é uma abordagem simples, mas poderosa. 

Em vez de aceitar a primeira resposta, ele incentiva a perguntar “por quê?” repetidamente, até chegar ao verdadeiro motivo do problema.

Por que o motor parou? Porque queimou. Mas por que queimou? O superaquecimento pode ter ocorrido por falta de manutenção, que, por sua vez, pode ter sido negligenciada por falta de um sistema automatizado. 

Cada pergunta é um passo em direção à verdadeira raiz do problema. Neste artigo, você verá como essa técnica ajuda a eliminar falhas repetitivas e como aplicá-la.

O Que É O Método Dos 5 Porquês?

O método dos 5 Porquês é uma técnica de análise de causa raiz usada para investigar falhas, indo além das respostas óbvias. 

A lógica é simples: perguntar “por quê?” até chegar à origem real do problema.

Apesar do nome, você não precisa se limitar a cinco perguntas. O número é apenas uma referência. O que importa é seguir questionando até encontrar uma causa que não dependa de outra.

Quando usada corretamente, essa abordagem expõe falhas estruturais, lacunas no processo ou até problemas de gestão que passam despercebidos em uma análise superficial.

E o melhor: você não precisa de sistemas complexos para começar. Basta ter um problema bem definido e não se contentar com a primeira resposta.

Por Que Usar Os 5 Porquês?

A técnica dos 5 Porquês nasceu no coração do sistema Toyota de produção, desenvolvida por Taiichi Ohno como uma ferramenta prática para resolver problemas diretamente na linha de frente.

O objetivo era criar uma cultura onde os operadores pudessem identificar falhas, entender sua causa e corrigi-las com agilidade — sem depender exclusivamente de engenheiros ou análises complexas.

Na prática, isso coloca a responsabilidade da melhoria contínua nas mãos de quem realmente vive o processo.

Esse é um dos maiores méritos da metodologia: ela democratiza a análise de causa raiz.

E mesmo com o passar dos anos, a abordagem continua atual. Ela é usada tanto em ambientes industriais quanto em áreas como logística, engenharia e manutenção — sempre com o propósito de atacar a origem do problema, não os sintomas.

Quando Aplicar O Método Dos 5 Porquês?

Nem toda investigação precisa começar com um grande relatório técnico. Muitas vezes, o que a equipe precisa é de um ponto de partida claro para entender por que algo deu errado — e agir rápido.

O método dos 5 Porquês funciona especialmente bem quando:

  • Existe um problema pontual a ser resolvido, como uma falha mecânica específica ou uma parada de máquina inesperada.
  • É necessário agir com agilidade, sem depender de análises longas ou ferramentas estatísticas avançadas.
  • A falha não tem causas múltiplas ou interdependentes, o que permite uma linha de raciocínio direta até a causa raiz.
  • A equipe precisa discutir o problema de forma estruturada, mas com uma abordagem prática, aplicável no dia a dia.

Por outro lado, esse não é o melhor método quando há várias causas envolvidas, eventos sistêmicos ou falhas recorrentes de diferentes origens

Nesses casos, técnicas como FMEA ou o Diagrama de Ishikawa oferecem uma visão mais completa.

Exemplo Dos 5 Porquês

Imagine uma situação de chão de fábrica: um motor essencial para a linha de produção parou de funcionar. 

A produção atrasou, a equipe correu para corrigir e o problema foi resolvido no curto prazo. Mas ninguém parou para entender o que causou a falha — o que significa que ela pode acontecer de novo.

Ao aplicar o método dos 5 Porquês, a investigação se desenvolve assim:

Por Que O Equipamento Falhou?

Porque o motor superaqueceu durante o funcionamento.

O sistema de proteção desligou automaticamente o equipamento ao identificar temperaturas acima do limite seguro. A falha não foi mecânica, mas uma resposta a uma condição crítica.

Por Que Ele Superaqueceu?

Porque o ventilador de resfriamento não estava funcionando.

Sem o ventilador ativo, o calor gerado pelo motor não foi dissipado, o que fez a temperatura subir rapidamente durante a operação.

Por Que O Ventilador De Resfriamento Falhou?

Porque o componente estava travado por falta de lubrificação.

Essa condição foi identificada pela equipe de manutenção ao inspecionar o conjunto. O travamento impediu o funcionamento adequado do ventilador.

Por Que A Manutenção Dele Foi Negligenciada?

Porque não havia nenhuma ordem de serviço programada para inspecionar ou lubrificar esse ventilador.

O componente não estava no plano de manutenção preventiva da planta. Ou seja, ele passou despercebido nas últimas rotinas de inspeção.

Por Que Não Temos Um Sistema Automatizado De Manutenção Preventiva?

Porque o controle ainda é feito manualmente, o que aumenta o risco de falhas no planejamento e execução das tarefas.

Aqui está a raiz do problema. A falha do motor começou muito antes da parada em si, foi consequência de uma lacuna no processo de gestão da manutenção.

Esse é o tipo de análise que os 5 Porquês proporcionam. Em poucas perguntas, a equipe sai do sintoma e chega à causa real — neste caso, a ausência de uma estrutura automatizada de planejamento preventivo. 

Vantagens Da Análise Dos 5 Porquês

A aplicação dos 5 Porquês é uma forma direta e acessível de aumentar a assertividade na manutenção. 

Veja os principais pontos fortes do método:

Custo-Benefício

Você não precisa de ferramentas sofisticadas para aplicar os 5 Porquês. Basta definir bem o problema, envolver a equipe certa e conduzir a análise com foco. 

Por ser uma metodologia sem custo de implementação e com uma estrutura simples, pode ser aplicada em campo, durante a investigação de falhas — sem necessidade de software, consultoria ou tempo excessivo da equipe.

Além disso, quando elimina falhas recorrentes, reduz o número de paradas não programadas e os custos operacionais associados, como peças trocadas à toa, HH desperdiçadas e atrasos de produção.

Simplicidade

A grande força do método está na sua simplicidade. Ele pode ser aplicado em reuniões rápidas, durante uma análise de falha no Gemba — o local real onde a operação acontece — ou até mesmo em uma revisão de rotina. 

Não exige softwares nem treinamento avançado, o que facilita sua adoção em qualquer ambiente industrial, inclusive os que ainda não têm uma cultura estruturada de análise de causa raiz.

E quanto mais natural for esse tipo de investigação no dia a dia, mais madura será a cultura de confiabilidade da empresa.

Chega À Raiz De Um Único Problema

Diferente de outras metodologias mais amplas, os 5 Porquês são altamente eficazes para atacar um problema específico. 

Ao seguir uma linha de causa e efeito, a técnica permite focar em um ponto de falha e descobrir o que realmente precisa ser corrigido.

Isso é especialmente útil em falhas pontuais, que muitas vezes se repetem porque nunca foram realmente entendidas, só contornadas.

Por isso, é uma das técnicas mais usadas em chão de fábrica — especialmente em indústrias que precisam de respostas rápidas, mas com profundidade.

Desvantagens Do Método Dos 5 Porquês

Apesar da simplicidade ser um dos maiores atrativos do método, ela também pode ser sua principal limitação. Veja alguns motivos que podem ir contra o uso dessa técnica:

Análise Limitada

O método foca em uma única linha de causa. Em falhas mais complexas, com múltiplos fatores envolvidos, essa abordagem pode ignorar relações importantes entre causas distintas.

Nesses casos, o risco é chegar a uma “verdade conveniente” — simples de explicar, mas insuficiente para evitar novas ocorrências.

Suscetível A Vieses

Como a técnica depende da condução humana, é comum que a investigação siga uma linha já esperada pela equipe. 

O problema é que isso pode levar a diagnósticos baseados em opinião, não em evidências.

Sem dados concretos para validar cada resposta, a análise corre o risco de reforçar suposições e não revelar a verdadeira causa do problema.

Depende Do Conhecimento Da Equipe

A qualidade da análise está diretamente ligada ao nível de conhecimento de quem participa. 

Se a equipe envolvida não conhece profundamente o ativo, o processo ou o histórico da falha, a investigação tende a parar em respostas genéricas.

Por isso, sempre que possível, a técnica deve ser usada em conjunto com dados operacionais, históricos de manutenção e a experiência prática de quem vive o problema no dia a dia.

Ferramentas Dos 5 Porquês

Nem sempre um único método vai te levar até a causa real do problema. Dependendo do cenário, outras ferramentas podem complementar  ou até substituir  os 5 Porquês. 

Vamos ver como elas se comparam e quando faz mais sentido usar cada uma.

5 Porquês vs. Análise Da Árvore De Falhas (FTA)

Os 5 Porquês seguem uma linha de raciocínio única, que é bastante útil quando o problema é isolado e tem uma causa predominante.

Já a Análise da Árvore de Falhas é uma ferramenta que ajuda a visualizar todos os caminhos possíveis que podem levar a uma falha. 

Ela começa com o problema e vai abrindo ramificações que mostram o que pode ter contribuído para ele.

Funciona muito bem em situações mais complexas, quando há muitas variáveis envolvidas. 

Se a falha depende de uma combinação de fatores, como falha de sensor + erro humano + atraso na manutenção, a FTA é a ferramenta ideal.

Principais diferenças:

  • A FTA é mais indicada para falhas críticas e cenários complexos.
  • Oferece uma visão completa, mas exige mais tempo e estrutura para aplicação.
  • Os 5 Porquês funcionam melhor quando é necessário agir rápido com foco em um único evento.

5 Porquês vs. Diagrama De Espinha De Peixe (Ishikawa)

O Diagrama de Ishikawa é ótimo para organizar ideias. Ele ajuda a visualizar a relação entre múltiplos fatores que podem contribuir para uma falha.

Ele consiste em levantar várias hipóteses ao mesmo tempo, dividindo as causas possíveis em categorias, como: método, máquina, material, mão de obra, meio ambiente e medição.

É muito usado em sessões de brainstorming técnico e funciona bem para discutir falhas com diversas variáveis envolvidas, quando a equipe quer ter uma visão ampla antes de decidir por onde investigar. 

E aqui entra uma combinação poderosa: depois de usar o Ishikawa para mapear possibilidades, você pode aplicar os 5 Porquês para aprofundar a análise nas causas mais prováveis.

Enquanto o Ishikawa abre o leque, os 5 Porquês ajudam a fechar o foco.

5 Porquês vs. FMEA (Análise De Modos De Falha E Efeitos)

A Análise De Modos De Falha E Efeitos é mais estratégica. 

Ela mapeia todos os modos de falha possíveis de um equipamento ou processo e classifica o risco de cada um com base em três critérios — severidade, ocorrência e capacidade de detecção.

Ou seja, a ideia é mapear tudo o que pode dar errado em um processo ou equipamento e avaliar o impacto de cada falha — para então agir antes que ela ocorra.

É uma técnica robusta, muito usada no planejamento de novos processos ou no redesenho de equipamentos críticos. Ao contrário dos 5 Porquês, o FMEA não espera que a falha aconteça: ele antecipa o que pode dar errado.

Principais diferenças:

  • O FMEA é proativo e quantitativo.
  • É mais demorado e exige conhecimento técnico profundo do sistema.
  • Os 5 Porquês são reativos, qualitativos e focados em eventos que já ocorreram.

No fim das contas, essas ferramentas não competem entre si, elas se complementam. O segredo está em saber qual usar, quando usar e, em muitos casos, como combiná-las. 

Como O Método Dos 5 Porquês Pode Prevenir Falhas Futuras Em Equipamentos?

Investigar uma falha que já aconteceu pode parecer algo reativo. Mas, quando feita com profundidade, essa análise se torna um dos pilares da manutenção proativa. 

Ao identificar a causa raiz de uma falha com os 5 Porquês, você elimina a chance de aplicar soluções temporárias. 

Isso evita que o problema volte a acontecer — e mais do que isso, permite que a equipe ajuste processos, planos de manutenção e até o comportamento operacional.

Por exemplo: se um motor queimou por superaquecimento, e o motivo foi a ausência de lubrificação no ventilador de resfriamento, não basta apenas substituir a peça. 

Com os 5 Porquês, descobre-se que o real problema estava na falta de um controle automatizado das ordens de serviço. 

Corrigir isso tem impacto direto na confiabilidade de outros ativos que operam sob as mesmas condições.

Mais do que apagar o incêndio, a técnica ajuda a:

  • Corrigir o processo, e não só a falha.
  • Evitar que erros operacionais ou omissões se repitam.
  • Ajustar planos de manutenção preventiva com base em dados reais.
  • Criar uma cultura de melhoria contínua e aprendizado.

Quais São Os Erros Mais Comuns Ao Aplicar A Análise Dos 5 Porquês?

Apesar de simples, o método dos 5 Porquês exige cuidado. 

Quando mal aplicado, ele deixa passar causas importantes ou leva a conclusões que não resolvem o problema de verdade. 

A seguir, os erros mais frequentes que você deve evitar:

Parar na Primeira Resposta

Esse é o erro mais comum. A equipe encontra uma possível causa e para por ali, sem aprofundar a análise. 

O risco? Tratar apenas o sintoma, e não o que realmente originou a falha.

Ignorar Dados e Evidências

A técnica é qualitativa, mas não deve ser baseada só em opinião. 

Sempre que possível, a análise precisa ser sustentada por dados de operação, históricos de manutenção ou registros técnicos. Sem isso, a investigação fica vulnerável a interpretações subjetivas.

Conduzir a Análise com Viés

Em alguns casos, a equipe já começa a análise com uma resposta "na cabeça". 

Isso limita as possibilidades e direciona as perguntas para um caminho específico — muitas vezes, o errado. 

Na hora de aplicar a técnica, é preciso garantir neutralidade e foco no problema, não em quem cometeu um erro.

Fazer Sozinho

Aplicar os 5 Porquês de forma isolada, sem envolver quem vivencia o processo ou o equipamento, reduz a qualidade das respostas. 

A técnica funciona melhor em grupo, com visões complementares e participação ativa da equipe.

Não Implementar Ações Corretivas

Chegar à causa raiz é só parte do trabalho. 

Se nenhuma ação for tomada depois da análise, o problema tende a se repetir. 

Por isso, o método precisa estar conectado a um plano de ação claro — e, de preferência, monitorado por indicadores.

Como A Análise Da Causa Raiz Impacta Os Custos Gerais De Manutenção?

Toda falha tem um custo. Mas o maior deles, muitas vezes, não está na peça trocada.

Está no tempo perdido, na quebra da rotina, no retrabalho e nos riscos que vêm com a reincidência. 

Quando a causa não é tratada, o problema volta. E quando volta, sai mais caro.

A análise de causa raiz — especialmente quando feita com os 5 Porquês — atua diretamente na redução desses custos ocultos. 

Ao eliminar a origem da falha, você evita múltiplas intervenções no mesmo ativo, diminui a necessidade de manutenção corretiva e melhora o aproveitamento dos recursos da equipe. Vamos pensar nos impactos diretos:

  • Redução de paradas não planejadas:  Cada minuto de inatividade pesa no orçamento. Prevenir uma falha é, quase sempre, mais barato do que corrigi-la no meio da operação.
  • Menos desperdício de peças e materiais: Trocar componentes sem atacar o motivo da falha gera substituições desnecessárias. Resolver o problema na origem evita gastos repetidos com o mesmo item.
  • Otimização da mão de obra: Manutenções corretivas urgentes sobrecarregam a equipe. Com menos urgência e mais previsibilidade, o uso de HH se torna mais inteligente e estratégico.
  • Melhor planejamento de recursos: Quando as causas são conhecidas, é possível revisar planos de manutenção, ajustar estoques e evitar gastos emergenciais — que normalmente têm custo mais alto.

Mais do que cortar custos, a análise da causa raiz traz previsibilidade. 

E previsibilidade é o que permite uma operação mais estável, eficiente e com decisões baseadas em dados.

Como o Monitoramento de Condição Te Ajuda a Antecipar Falhas

A análise de causa raiz é uma das práticas mais importantes da manutenção moderna.

Mas, na realidade do chão de fábrica, ela só funciona bem quando parte de dados concretos. 

Sem isso, decisões são tomadas com base em hipóteses e a causa real do problema pode continuar passando despercebida.

Não só isso — quando essas informações chegam tarde demais, depois da falha, a investigação vira um exercício de adivinhação.

É aqui que sensores inteligentes entram como aliados estratégicos. 

Com o monitoramento contínuo de vibração e temperatura, é possível perceber alterações no comportamento dos ativos muito antes de qualquer falha visível acontecer.

Com esses dados em mãos, a equipe de manutenção ganha tempo e clareza. 

E se torna possível iniciar uma análise antes mesmo da falha se concretizar — e, quando ela ocorre, a causa não precisa ser deduzida: ela está documentada, com evidência técnica.

Na prática, isso significa que:

  • A equipe técnica consegue atuar de forma preditiva, evitando que pequenos desvios evoluam para paradas críticas.
  • Cada alerta emitido já traz dados históricos, ajudando a entender não só o que está acontecendo, mas por que aquilo está acontecendo.
  • O tempo de resposta diminui e a precisão das análises aumenta, porque as evidências estão ali, registradas e acessíveis.

Ao aplicar os 5 Porquês com base nesses insights, o processo de investigação se torna mais rápido, preciso e confiável. 

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Erik Cordeiro
Erik Cordeiro

Engenheiro de Aplicações

Engenheiro eletricista formado pela Universidade Federal de São Carlos, especializado em manutenção industrial e gestão de energia. É engenheiro de aplicações na TRACTIAN.

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