As falhas que não aparecem em RMS e como identificá-las

Erik Cordeiro

Atualizado em 12 dez. de 2025

As falhas que não aparecem em RMS e como identificá-las

As falhas que não aparecem em RMS e como identificá-las

Em boa parte das plantas, o termômetro oficial da saúde dos ativos ainda é o valor global de vibração em RMS. Se o RMS está estável, a máquina é considerada saudável. Se sobe acima de um limite, acende-se o alerta. Esse raciocínio funciona bem para falhas já maduras: folgas avançadas, desbalanceamentos grosseiros, desalinhamentos severos. 

O problema é tudo o que acontece antes disso.

As primeiras etapas de degradação geralmente aparecem em faixas de alta frequência, com amplitudes muito baixas, frequentemente abaixo da sensibilidade dos limites globais e misturadas ao ruído normal do processo. 

É o caso de início de desgaste em pistas de rolamento, microtrincas, folgas incipientes e uma série de harmônicos elétricos que só se evidenciam quando você olha o espectro ou o envelope, não o RMS agregado.

Na prática, isso significa que boa parte das falhas começa e evolui silenciosamente sob a linha do RMS “aceitável”. O valor global segue dentro do range, os gráficos continuam “bonitos”, mas o ativo já saiu da sua condição de referência e entrou na zona P da curva PF, aquela janela em que ainda é possível intervir de forma planejada, antes da parada e do efeito cascata na produção.

Neste artigo, você vai descobrir por que o RMS não reage nas primeiras etapas da degradação, quais tipos de falha tendem a passar invisíveis nesse indicador e como a IA, combinada a sensores de alta frequência, pode te ajudar a enxergar esses sinais fracos com antecedência. 

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Por que o RMS não reage nas primeiras etapas da degradação

O RMS global foi desenhado para ser um indicador simples de severidade, não de sensibilidade. Ele resume a energia de vibração de uma máquina inteira em um único valor, calculado sobre uma faixa larga de frequências e uma janela de tempo relativamente longa. Isso funciona bem para falhas que já cresceram o suficiente para alterar o nível geral da vibração, mas é exatamente por isso que ele falha nas fases iniciais da degradação.

Nas primeiras etapas, boa parte das falhas aparece em faixas de alta frequência, com amplitudes muito baixas, concentradas em poucas linhas espectrais. Em termos energéticos, é pouca coisa perto de todo o conteúdo de vibração da máquina. O resultado é simples: a energia associada ao defeito incipiente quase não altera o valor global, que continua dentro do intervalo considerado normal, mesmo com a máquina já fora da sua condição de referência.

Há ainda o efeito de diluição no tempo. O RMS é calculado como uma média quadrática em uma janela de amostragem. Se o comportamento perigoso aparece apenas em alguns instantes do ciclo e o restante da janela está em condição aparentemente saudável, o valor médio esconde o problema.

O defeito fica restrito a pequenos trechos do sinal, enquanto o RMS reflete principalmente o comportamento dominante, que ainda parece estável.

Some a isso o ruído natural da operação: máquinas em carga variável, processos cíclicos, ajustes de velocidade e manobras de processo geram flutuações normais de vibração. Esses movimentos consomem grande parte da faixa dinâmica do RMS. 

Ou seja, o RMS global reage bem quando a falha já avançou o suficiente para alterar a energia total do sistema. Antes disso, a degradação vive em regiões estreitas do espectro, em janelas específicas do ciclo e em amplitudes baixas demais para mover a agulha do indicador global. 

É justamente nessa faixa, entre o início da degradação e o momento em que o RMS finalmente sobe, que a planta ganha ou perde sua janela de intervenção na curva PF.

Falhas típicas que não alteram RMS até muito tarde

Quando você olha só para o RMS global, está enxergando uma média de energia ao longo de uma faixa larga de frequências. Falhas que concentram sua assinatura em bandas estreitas ou em janelas muito curtas do ciclo simplesmente se diluem nesse valor. O resultado disso é que a máquina já entrou na zona P da curva PF e o RMS continua parecendo normal.

É exatamente o que acontece com vários modos de falha clássicos em rolamentos, eixos, motores e máquinas em regime variável. Veja alguns abaixo:

Defeitos iniciais em rolamentos (HFE)

Defeitos incipientes em pistas e elementos rolantes aparecem, primeiro, como impactos de alta frequência com amplitude muito baixa. Eles ficam concentrados em bandas de HFE (high frequency energy) e nas frequências associadas às passagens de elementos sobre a área danificada.

Nessa fase, o contato ainda não está totalmente rompido; são microbatidas que geram pulsos rápidos, separados no tempo. Em termos de energia total, isso é pouco. O RMS global quase não se move. Quem olha apenas o valor agregado continua vendo um rolamento “dentro do limite”.

Já quando você observa HFE, envelope ou bandas específicas, a história muda: o padrão de impulsos começa a se repetir, a energia em alta frequência cresce e a tendência fica clara muito antes de qualquer aumento significativo do RMS.

Folga incipiente (aparece no envelope, não no global)

Folga mecânica não começa como “batida solta” perceptível. No início, o que existe é uma perda de rigidez muito pequena entre componentes. Por exemplo, entre eixo e mancal ou entre engrenagens com leve desgaste.

Essa folga incipiente gera modulações e impactos de baixa amplitude, que aparecem sobretudo no envelope de aceleração e em frequências bem definidas (normalmente múltiplos da rotação), não no valor global. O contato ainda é, na maior parte do tempo, “normal”, então a energia total de vibração pouco muda.

Só quando a folga aumenta o suficiente para gerar impactos mais fortes, com repetição constante a cada volta, o RMS começa a subir. Se o time espera o global mexer, perde justamente a janela em que seria possível corrigir o ajuste, reapertar, recalçar ou intervir de forma planejada.

Falhas típicas que não alteram RMS até muito tarde

Falhas elétricas (harmônicos específicos)

Em motores elétricos, muitas falhas relevantes aparecem primeiro no domínio elétrico: assimetria de fase, barras quebradas de rotor, problemas de alimentação e desequilíbrios no estator. A assinatura disso é uma série de harmônicos específicos, ligados à frequência de rede e à velocidade síncrona.

Esses harmônicos podem ter amplitude relativamente baixa e se distribuir em pontos bem localizados do espectro. De novo, a energia total representada por eles é pequena perto de todo o conteúdo de vibração mecânica da máquina. O RMS global engole esses sinais sem reagir.

Ao analisar bandas e harmônicos específicos, no entanto, você vê claramente a formação da falha: surgimento e crescimento de componentes características, sidebands em torno da fundamental, padrões que se repetem sob mesma carga. Sem olhar para essas regiões dedicadas, o motor avança na degradação elétrica enquanto o valor global permanece aparentemente saudável.

Desbalanceamento leve sob cargas variáveis

Desbalanceamento clássico, em regime estável, altera o RMS com relativa rapidez. O problema é o cenário mais comum hoje: máquinas com controle de velocidade, bombas com variação de vazão, ventiladores modulantes. Nesses casos, o desbalanceamento leve fica mascarado pela própria variação de processo.

Quando a velocidade e a carga mudam o tempo todo, a energia centrífuga ligada ao desbalanceamento também muda. Em parte do tempo, ela está em um nível que o sistema sempre viu como normal historicamente. Em outra parte, ela sobe, mas junto com outras vibrações legítimas do processo. Na média, o RMS parece dentro do padrão.

Se você observa a componente ao longo do tempo, no entanto, começa a enxergar uma tendência: aquele pico em 1x fica um pouco mais alto, mais estável, menos dependente só do regime. É o tipo de nuance que o RMS não entrega, mas que no espectro e na tendência por banda deixa claro que o rotor começou a fugir do equilíbrio.

Trincas iniciantes em eixos

Trincas em eixos são um caso extremo de falha que nasce invisível. A fissura inicial é microscópica e altera, de forma muito sutil, a rigidez do componente. Nos estágios iniciais, isso gera pequenas mudanças na resposta dinâmica do eixo: variação de amplitude em certos modos, modulações em torno da rotação, alterações discretas na forma como a estrutura vibra sob carga.

A energia associada a essas alterações é tão baixa que o RMS global praticamente não se mexe. 

A trinca, porém, continua propagando a cada ciclo de carga. Com o tempo, começam a surgir padrões mais claros em frequências ligadas à rotação e a modos específicos de flexão, às vezes visíveis apenas em análises de espectro de alta resolução ou em técnicas avançadas de envelope.

Esperar o RMS reagir significa enxergar a trinca quando ela já comprometeu a integridade do eixo. E, nesse ponto, a opção deixa de ser planejar a intervenção e passa a ser evitar uma falha catastrófica nas próximas horas.

Como a IA identifica justamente aquilo que o RMS não mostra

O RMS global enxerga a energia média. A Inteligência Artificial trabalha em outra camada: ela lê o sinal completo, separa bandas de frequência, considera o contexto de operação e aprende, na prática, como cada máquina se comporta quando está saudável.

O primeiro passo é construir o baseline real do ativo. Os sensores da Tractian, por exemplo, não olham só o RMS: eles acompanham tendências em bandas específicas, energia em alta frequência (HFE), envelope, harmônicos elétricos, relação entre 1x, 2x, 3x RPM, além de temperatura, corrente e regime de carga. 

Ao longo dos primeiros dias e semanas de operação, a IA entende qual é o status normal daquele equipamento em cada condição de processo: partida, regime contínuo, meia carga, variação de vazão, etc.

A partir desse baseline, o sistema passa a procurar justamente aquilo que o RMS não entrega: pequenas mudanças de padrão em regiões estreitas do espectro, surgimento de impulsos de alta frequência, modulações discretas em torno da rotação, aparecimento e crescimento de harmônicos específicos. 

Em vez de olhar um valor agregado, o modelo acompanha dezenas de microindicadores ao mesmo tempo e compara cada novo trecho de sinal com o histórico daquela própria máquina e de máquinas semelhantes.

Outro ponto crítico é o recorte temporal. A IA não calcula um único número em uma janela longa: ela avalia trechos específicos em que falhas tendem a se manifestar com mais clareza, como acelerações, paradas, picos de carga e transientes. 

É nesses momentos que defeitos incipientes em rolamentos batem em HFE, folgas começam a gerar impactos discretos, barras de rotor aparecem em harmônicos e trincas alteram a resposta dinâmica do eixo. No RMS médio, esses efeitos se perdem. Nas janelas certas, eles ficam nítidos o suficiente para que o modelo marque um desvio.

Na prática, o que o sistema faz é transformar essas alterações sutis em um indicador de risco que o time consegue usar. Ele classifica o evento, associa a um modo de falha provável (rolamento, folga, elétrica, desbalanceamento, trinca), estima tendência e urgência com base em casos históricos e devolve um alerta já qualificado. O analista não precisa pescar no espectro em busca de um pico em BPFO ou de um sideband elétrico: isso já chega pronto, com diagnóstico e contexto.

Com o tempo, a IA fica mais seletiva, aprendendo quais padrões realmente levaram à falha e quais se mostraram apenas ruído ou variação de processo. Isso reduz falsos positivos e torna os alertas ligados a sinais que o RMS não mostra ainda mais confiáveis. 

Use os sensores da Tractian e antecipe suas falhas

Se o RMS não enxerga as primeiras etapas da degradação, a saída não é abandonar a vibração, mas medir melhor e interpretar com mais inteligência. 

É exatamente aí que entram os sensores da Tractian.

Eles coletam vibração em alta frequência, múltiplos eixos, mais temperatura e corrente, em regime contínuo. Não é só um ponto de medição a mais: é uma malha de dados capaz de capturar HFE de rolamentos, impactos discretos de folga incipiente, harmônicos típicos de falhas elétricas, nuances de desbalanceamento leve em carga variável e alterações sutis no comportamento dinâmico de eixos trincando.

A diferença é que você não precisa mergulhar em espectros e envelopes toda vez que algo muda. A IA da Tractian faz esse trabalho pesado: constrói o baseline real do ativo, acompanha bandas específicas, detecta os desvios que o RMS não mostra e já devolve alertas com diagnóstico provável, severidade e urgência. Na prática, o sistema aponta: “rolamento iniciando defeito”, “folga incipiente”, “assinatura elétrica suspeita”, tudo isso enquanto o valor global ainda parece normal.

Ou seja, em vez de esperar o RMS subir, a equipe passa a intervir quando a falha ainda está na zona P da curva PF, com tempo para planejar parada, combinar com a produção, programar materiais e evitar o efeito cascata de uma quebra inesperada.

Se hoje o seu programa de preditiva ainda depende quase só de RMS e você sente que está vendo tarde demais esses modos de falha, vale testar essa diferença na prática. Selecione seus ativos mais críticos — motores, redutores, bombas, ventiladores — e instale os sensores da Tractian.

Você vai enxergar justamente o que o RMS não mostra hoje. E, principalmente, vai ter tempo para agir antes que isso vire parada e custo. 

Solicite uma demonstração hoje mesmo e veja o impacto dos sensores da Tractian no monitoramento da sua planta.
Erik Cordeiro
Erik Cordeiro

Engenheiro de Aplicações

Engenheiro de Aplicações na Tractian, Erik Cordeiro é formado em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de São Carlos e Pós-Graduado em Gestão de Manutenção, com especialização em manutenção industrial e gestão de energia. Com alta expertise em operações industriais e amplo domínio de manutenção preditiva, Erik é referência em soluções para aumentar a confiabilidade em plantas fabris.